NA PRÓXIMA MANHÃ

Belém, 12 de dezembro de 2011.

Quando chegar a próxima manhã e seus raios solitários iluminarem a minha vida inútil talvez crie coragem e siga o rumo negro que me envolve feito uma manta gelada de escuridão.
Dentro do meu quarto trancado eu espero estes raios, sentado ao meu canto, com um livro inacabado nas mãos e na cabeça. Sem esperança de continuidade meu coração se perde e minha alma cai neste vazio calamitoso.
Para os outros é difícil me entenderem por que vêem de cima, com seus ares suntuosos e seus rostos impávidos a qualquer sentimento expressivo. Já o que eu vejo em muito difere com a visão de meus amigos, em parte por minha culpa e em outra parte por culpa deles próprios que me abandonaram.
Quando se está caindo em um abismo não se é capaz de mensurar sua altura e nem sua largura, pode ser infindável outrora minúsculo mas o fato é que é indefinível. Assim também são as rochas dos seus lados que vão se fechando à medida que as horas passam, e posso jurar estar ouvindo vozes enquanto caio.
São vozes que me dizem: “Eu te amo”, “Não me deixe”, “Se te fores eu me vou também” porém essas vozes só existem pra fazer da queda mais difícil e torturante do que realmente é. Um relâmpago perpassa meus pensamento e começo a ter alguma esperança de que realmente aja um lugar para mim no mundo, meu abismo já não parece tão profundo e os fluidos rios do vazio que me esperam ao findar minha queda já escoam preparando-me para a elevação eminente.
É quando acredito nas coisas e abdico do meu destino lógico. Só pra sofrer mais, só pra me empurrar ainda mais nesse buraco e tirar da minha alma uma capacidade diferente. Amar, sorrir, se alegrar, socializar, já não são mais habilidades minhas, no lugar delas feito parasitas instalaram-se a depressão, a tristeza, o ódio e a extrema solidão.
Deveras já não há mais volta, nem caminho, resta só o suave e torturante ritmo em que demoro a alcançar as profundezas, enquanto choro cada vez que te vejo e me desprezas e desmorona tudo ao meu redor. Não sei quanto tempo vou agüentar assim.
Dedicado a Deusa A.

O Poeta Solitário

Nenhum comentário:

Postar um comentário